Currículo de Cicloviagens
Para cada viagem executada, crio um blog com nosso diário de bordo, sugestões e críticas de cada local conhecido. Tento esclarecer dúvidas, apresento roteiros, altimetrias e demonstrativos de gastos. Para acessar, basta clicar sobre os link`s abaixo:
2 - 2013 Santiago de Compostela - 850 km
3 - 2013 Vale Europeu - 300 km
4 - 2014 Caminho do Sol - 240 km
5 - 2014 Lagamar - 130 km
6 - 2014 Caminho do Sal - 54 km
7 - 2014 Caminho dos Diamantes / Estrada Real - 395 km
8 - 2015 Circuito das Frutas - 230 km
9 - 2015 Circuito Lagamar - 180 km
10 - 2016 Expedição Praia - 300 km
Casada com Filipe há 5 anos, transformamos nossas viagens de lazer apenas em 'cicloviagens'.
Quem somos?
Segue reportagem da Revista Bicicleta, 25/10/2016
Edição 65 - Agosto de 2016 |
Nossa
amiga Claudia Jakuboski, de 34 anos, natural de São Paulo, vive em Sorocaba
onde é Supervisora de Treinamentos. Quem olha à primeira vista identifica uma
jovem profissional muito comprometida com o trabalho atrás dos seus óculos de
grau. E não é que não o seja. Porém, as pessoas sequer imaginam que ela já
possua um currículo sensacional de cicloviagens e que seja completamente
apaixonada por estar nas estradas de asfalto e terra, pedalando com seu esposo
Filipe. E revela algo surpreendente: depois que começou a fazer cicloturismo,
há seis anos, não viajou mais de outra forma a não ser de bike!
Revista Bicicleta por Therbio
Felipe entrevista Claudia Jakuboski
Adepta
da ideia de que conseguimos viver com muito pouco ou com o mínimo necessário,
Claudia é destas pessoas carismáticas que deixa lugar na bagagem para levar dos
lugares experiências de convívio, cultura e muito aprendizado.
Ainda
que tenha realizado cicloviagens pelo Brasil nos afamados destinos do Vale
Europeu, Circuito Lagamar São Paulo, Caminho do Sol, Caminho do Sal, Caminho
dos Diamantes – Estrada Real, Serras Catarinenses, Circuito das Frutas, entre
inúmeros outros, ela se considera uma eterna aprendiz, disposta a apreender das
paisagens naturais e culturais o melhor para a vida. E não pára por aí, não.
Claudia também teve a maravilhosa experiência de pedalar os 830 km do Caminho a
Santiago de Compostela, um dos mais emblemáticos destinos cicloturísticos
desejados por quatro entre cinco cicloturistas.
Ela
comenta que, como tudo na vida, a gente deve começar a pedalar pouco a pouco,
se interessar pelo assunto, levantar dados e informações, ouvir muito a
experiência dos outros cicloturistas, e assim, pedalada a pedalada, criar a
própria maneira de se sentir confortável ao passar dos quilômetros. Prova disto
é que, ainda que tenha a companhia indissociável e cuidadosa de Filipe, Claudia
quis aprender a fazer pequenos reparos e regular sua bike a fim de não precisar
depender de ninguém para este fim.
Enquanto
pedala, Claudia sorri, tanto para quem encontra pelos caminhos quanto para si
mesma. É uma maneira de presentear-se com o que mais gosta de fazer. Quem a
segue nas mídias sociais também recebe presentes de Claudia, seja pelas
postagens de fotos superbacanas das pedaladas que realiza, seja pelas mensagens
diárias desejando “bom dia com alegria”, algo que não se pode deixar de
perceber e retribuir.
Claudia
é daquele tipo de gente em extinção que se sente grata por qualquer coisa, por
mínima que seja. Ela se emociona e agradece por cada nova curva dos caminhos,
pelas ladeiras acima e abaixo, pelo aceno dos cidadãos por quem cruza, pelas
crianças que tentam acompanhá-la quando chega em alguns vilarejos e a convidam
para comer em suas casas, pelas palavras de companheiros de cicloturismo mais
experientes, enfim. O sentir-se grata de Claudia é parte fundamental daquilo
que faz.
Ela
comenta que, a cada nova cicloviagem, se despede de si mesma, para que possa
abandonar-se em busca de novos conteúdos que a farão melhor do que quando
partira. A isto chamo de humildade, uma das bagagens essenciais que todo cicloturista
deveria carregar.
Comenta
ainda que acredita que o cicloturismo a fez uma pessoa melhor, que se sente
mais conectada com as sensações dos caminhos, com as realidades de vida tão
diferentes da sua, com a vibração carregada de emoção e que lhe confere
equilíbrio. Pedalar é assim, não é mesmo?
Nas
cicloviagens mundo adentro de Claudia e Filipe sempre há espaço para a
contemplação de lugares e personagens. O ritmo das pedaladas é uma música
ligeira compassada pela respiração, o alento indicando a vida que se inspira e
expira. Sempre há tempo para mais uma foto, para mais um momento de gravar na
memória emotiva aquele minuto da história de cada um. A poeira que impregna os
calçados e roupas vale como uma lembrança da trajetória e de tudo o que se
viveu.
Claudia
segue incentivando mulheres e homens a deixar-se levar pelos caminhos em
bicicleta, da mesma forma que propõe olhar a vida de modo a enxergar as
dificuldades como coisas passageiras e não tão grandes como as imaginamos.
Em
suas palestras, desmistifica a falta de conforto e os empecilhos que,
erroneamente, as pessoas atribuem às cicloviagens realizadas por mulheres, seja
no teor de segurança, da higiene, do peso e tamanho da bagagem, entre outros
aspectos. Ou seja, até mesmo quando profere uma palestra, Claudia segue
propositiva, corajosa, criativa e sensível.
Entusiasta
da ideia do Turismo de Experiência, Claudia diz que quando pensa em viajar já
não se relaciona mais com o Turismo de Massa baseado no consumo, aglomeração de
pessoas, péssimos atendimentos, esgotamentos de recursos, violência urbana,
trânsito caótico, pessoas estressadas. Pensa, justamente, nos novos lugares com
os quais irá presentear seus olhos e seus sentidos, como uma bagagem
indelével!
Quando
analisa os últimos seis anos, acredita que houve uma evolução muito grande no
que diz respeito a equipamentos para cicloturistas, principalmente os
equipamentos femininos como selim, espuma de calções anatômicos, camisetas que
se ajustam melhor. Também percebeu um aumento considerável na estrutura de
circuitos de cicloturismo, como mapas, informações, credenciais, locais para
comer e dormir, o que facilita em muito a programação da cicloviagem.
Quando
perguntei a ela sobre que aspectos citaria que ainda faltam para que a prática
do cicloturismo se expanda no nosso país, Claudia disse que percebe que os
investimentos na área ainda são precários, e o fator que mais compromete é, sem
dúvida, a segurança, que envolve a integridade física e financeira de quem
viaja de maneira tão delicada. Sempre que decide fazer uma cicloviagem, avalia
todos esses aspectos e, infelizmente, já deixou de conhecer lugares por essas
razões. Fica a dica para novas destinações cicloturísticas que pretendem ganhar
a atenção destes “consumidores”.
Para
finalizar, Claudia conheceu Filipe, seu marido, pedalando, e depois disto
realizaram inúmeras cicloviagens. Perguntei qual o peso que a bicicleta tem na
vida do casal e ela, aos risos, respondeu que quando não pedalam, simplesmente
brigam (risos). Treinam juntos, todo final de semana, sem ter preocupação de
sair ou chegar em uma hora específica. Viajam apenas de bike, por isso, todos
os investimentos que são feitos em equipamentos são motivo de alegria. E por
fim, embora a cumplicidade de um casal dependa de vários fatores, fazer algo
juntos contribui muito positivamente tanto física como mentalmente.
Que
esta mensagem de Claudia anime, inspire e estimule novas mulheres à prática do
cicloturismo, e que o façam com alegria. Alguém se habilita?
http://www.revistabicicleta.com.br/bicicleta.php?viajar%3F_claro_so_se_for_de_bicicleta&id=4623447
Revista Bicicleta por Cláudia Jakuboski Colaboração: Therbio Felipe M. Cezar
14/08/2015
Foto: Cláudia Jakuboski e Vera Marques
Montanhas
Reais - Um caminho cheio de belezas, histórias e dificuldades
Partimos
para uma viagem de oito dias pela Estrada Real. Foram 369 km partindo de Ouro
Preto e tendo como ponto de chegada Diamantina.
Desde
que voltei do Caminho de Santiago, na Espanha, minha próxima meta era percorrer
a Estrada Real - MG. Conheci algumas pessoas que haviam pedalado pelo caminho,
portando todo o aparato: barraca, fogareiro etc. Acredito que, talvez, por
acharem que o referido caminho não tinha estrutura suficiente, acabavam por
levar uma estrutura mais completa consigo.
Este não
é meu estilo de cicloviagem. Gosto de me aventurar, mas prefiro levar o mínimo
possível e, se possível, dormir em pousadas, sobre um colchão bem gostosinho.
Por ‘concluir’, equivocadamente, que o caminho não tinha muita infraestrutura,
não me sentia muito atraída em fazê-lo.
No
entanto, em setembro deste ano, 2014, descobri o site da Estrada Real, com
informações que me animaram muito! Era possível baixar as planilhas, gráficos
de altimetria e mais: havia telefones de pousadas por todo o percurso! Isso era
o sinal que eu aguardava. Estava na hora de programar o grande Caminho Real!
Depois
de muita pesquisa, meu marido e eu optamos por começar pelo ‘Caminho dos
Diamantes’, um percurso de aproximadamente 400 km. O mesmo poderia ser iniciado
em Diamantina (marco zero) ou em Ouro Preto. Como ‘desbravadores’, decidimos
fazê-lo sentido descobrimento, ou seja, iniciar em Ouro Preto.
A
preparação do caminho se deu com três meses de antecedência e envolveu um
treinamento físico para o ganho de condicionamento, visto que em nossas
pesquisas percebemos que teríamos grandes dificuldades com a altimetria.
Também
fizemos leituras profundas sobre as histórias das cidades que passaríamos, para
tentar aproveitar ao máximo cada lugar. Como a data escolhida coincidira com
datas festivas e feriados, definimos a parte logística, com aproximadamente 50
km por dia, e fizemos as reservas prévias.
Toda
esta preparação foi muito importante! Durante o percurso, conhecemos pessoas
que provavelmente desconheciam certos fatores do caminho, o que acabou
contribuindo para que sua viagem fosse mal sucedida, causando, além de
frustração, sua interrupção.
A
princípio, iríamos apenas Filipe e eu. Logo, alguns amigos descobriram e se
colocaram à disposição para nos acompanhar. Partimos no dia 22 de dezembro de
2014, em sete pessoas: Maria Mendes, Claudia Maria (Claudinha), Carlos Eduardo
(Carlão), Vera Marques, José Marques (Zé), Filipe e eu. Bikes bem protegidas,
em malas próprias para viagem, partimos para nossa aventura. Tudo ocorreu muito
bem, sem imprevistos, tanto nos ônibus como no avião.
Já em
Ouro Preto, antes de partir, passamos no Centro de Informações ao Turista,
localizado na Praça Tiradentes, a fim de pegar os ‘passaportes’ solicitados com
antecedência no site da Estrada Real. Esta credencial nos permite receber
carimbos pelo caminho e, ao conquistar pelo menos dez carimbos, nos garante um
certificado de conclusão de percurso, que será retirado no final, em nosso
caso, em Diamantina.
Conforme
o planejado, partimos de Ouro Preto rumo aos ‘diamantes’ do caminho. Logo de
‘cara’, dar adeus a Ouro Preto nos faz suspirar, pois sinceramente, gostaríamos
de ter tido mais tempo na cidade. Meu marido, Filipe, de nacionalidade portuguesa,
diz sentir-se na linda Porto, em Portugal, por lá. Antes de partirmos, fomos
agraciados com a presença de vários curiosos que gostariam de saber para onde
íamos, como faríamos, sempre recebendo suas bênçãos no final de nossas
explicações. Fizemos muitas fotos com várias pessoas, como se fôssemos artistas
de cinema.
Antes de
partir, passamos em frente aos principais pontos turísticos, fotografando-os um
a um. Enquanto fazíamos isso, repassava em minha mente, agitada e ansiosa para
desbravar nossa mais nova aventura, um pequeno trecho do poema “A Vida” de
Augusto Branco:
"Mas
vivi!
E ainda vivo!
Não passo pela vida.
E você também não deveria passar!
Não passo pela vida.
E você também não deveria passar!
Viva!!
Bom mesmo é ir à luta com determinação
Abraçar a vida com paixão
Perder com classe
E vencer com ousadia
Porque o mundo pertence a quem se atreve
E a vida é “muito” para ser insignificante."
Sorrisos
no rosto, bikes na estrada, vias de asfalto, longas descidas e paisagens
lindíssimas! O começo do caminho nos deixava muito animados! Ao chegarmos à
Mina de Passagem, em Mariana, a maior mina de ouro desativada aberta à
visitação, paramos para conferir os mais de 120 m abaixo da terra, com todas as
suas galerias, túneis e uma gruta de água cristalina com uma visão espetacular.
Também ouvimos a apresentação guiada de uma monitora da mina, que nos deu belas
explicações de como eram executados os trabalhos por ali, no século passado, e
nos deu também uma amostra prática de como era garimpado o ouro após a extração
do metal.
A cidade de Mariana era também muito aguardada por todos, mas especialmente por nossa querida Vera que estava ansiosa por conhecer o antigo Órgão da Sé, instrumento que chegou ao Brasil em 1753, como presente da coroa portuguesa. O instrumento é de grande importância, tanto pela antiguidade como por ser o único Órgão de manufatura Schnitger que sobreviveu até hoje fora da Europa.
A cidade de Mariana era também muito aguardada por todos, mas especialmente por nossa querida Vera que estava ansiosa por conhecer o antigo Órgão da Sé, instrumento que chegou ao Brasil em 1753, como presente da coroa portuguesa. O instrumento é de grande importância, tanto pela antiguidade como por ser o único Órgão de manufatura Schnitger que sobreviveu até hoje fora da Europa.
Para
nossa tristeza, não é permitido fazer fotos, mesmo sem flash. Acho isso um
grande erro, afinal, ele também nos pertence e não levar sua memória visual nos
deixou tristes. Aproveitamos para pegar nossos Carimbos na cidade e na
sequência passamos pelo primeiro marco da Estrada Real, em frente à estação
ferroviária de Mariana.
A partir
deste ponto, encontraríamos marcos por toda nossa jornada, o que nos
certificava de que estávamos no caminho certo! Eufóricos, paramos para nossa
primeira foto no marco. Fomos carinhosamente agraciados por uma senhora, que
simplesmente atravessou a rua para nos abençoar. Todo este carinho típico do
povo mineiro nos acompanharia por todos os outros dias de viagem.
Em
Camargos, fomos direto para a pousada da querida Dona Cota e Sr. Dario, um
casal incrível que nos recebeu como se fôssemos da família. Sobre a mesa da
cozinha rústica tipicamente mineira, com direito a um fogão a lenha, um
delicioso café da tarde com bolo e uma boa prosa nos aguardavam. Atentos, o
casal nos observava, como que tentando descobrir se precisávamos de mais alguma
coisa que eles ainda não tivessem percebido.
A
pousada simples e todo o tratamento aconchegante nos deu uma ideia de como
passaríamos os próximos dias. No dia seguinte, após delicioso café da manhã com
direito a pão de queijo, queijo, bolo e pão caseiro, dizer adeus aos nossos
primeiros hospedeiros foi triste, mas necessário. Passamos pelo cruzeiro e a
igrejinha do povoado, neste momento fechados para restauração. Belíssimas
estradas de terra com mata fechada e um riacho nos acompanharam até chegarmos a
outro pequeno povoado, Bento Rodrigues. Ruas calmas, pessoas tranquilas, tudo
conspirava para que estivéssemos em paz, sorrindo à toa.
Logo
passamos a ver no horizonte a belíssima Serra do Caraça e do Espinhaço. Após um
pequeno trecho em asfalto, percebemos que estávamos adentrando a região de
Catas Altas, devido a interferência humana na paisagem. Infelizmente, há
mineradoras trabalhando aqui a todo o vapor.
Ao
pararmos num pequeno mercadinho para nos abastecer, conversei com um senhor,
que estava sentado à porta. Percebi que os trabalhos da mineradora incomodavam
as pessoas da cidade. Ele nos contou que a água que vem das montanhas, antes
cristalina, atualmente está com muita impureza, provavelmente consequência dos
trabalhos. Fiquei muito triste ao ouvi-lo dizer: ‘Talvez em breve, ao olharmos
para o horizonte, não tenhamos mais nenhuma montanha como essas que temos
agora’. Seguimos por mais alguns quilômetros em estradas de terra e chegamos ao
marco 505, momento aguardado por todos, pois é onde está o famoso monumento
‘Bicame de Pedra’, um aqueduto com 4 m de altura, datado do ano de 1792,
construído por escravos, apenas com pedras sem qualquer tipo de concreto.
Após
muitas fotos e maravilhados com o que vivemos e vimos, em plena noite de natal,
chegamos a Santa Bárbara, uma das cidades mais antigas de Minas. Lá, ficamos
hospedados em um hotel na parte central da cidade, aguardando o próximo dia de
aventuras.
O
terceiro dia prometia grandes paisagens e dificuldades, afinal, após Barão de
Cocais, pegaríamos uma ‘bela’ subida com pelo menos 6 km, partindo de uma
altitude com 600 m e terminando em 1.200 m. Além desta dificuldade, o trecho
que era para ter sido feito em meio a uma floresta de eucalipto, no momento,
encontrava-se sem árvores devido a estar no período de cortes. No calor intenso
do sol do meio dia, chegar ao topo não foi uma tarefa tão simples; mas
conseguimos! Neste trecho ainda passamos por uma ponte férrea muitíssimo alta,
onde aproveitamos para fazer algumas fotos.
O tão
aguardado Sítio Arqueológico Pedra Pintada, com pinturas rupestres que datam de
cerca de 6 mil anos, infelizmente estava fechado, embora a placa prometia estar
aberto mesmo aos sábados, domingos e feriados. Sem poder entrar, seguimos rumo
à cidade de Cocais onde novamente, para nosso desespero, tudo estava fechado.
Nossas águas já haviam acabado e, por isso, tivemos que recorrer aos sempre
bondosos e acessíveis moradores que prontamente nos deram água fresca
suficiente para poder continuar.
Em Bom
Jesus do Amparo, éramos aguardados por Fernando Gonçalves, um guia muito
querido da região que nos levou até a Pousada Real, onde fomos recebidos por
Joãozinho. Após uma longa e divertida conversa, comemos os deliciosos lanches -
que eram nossa única opção de alimentação - e descansamos para poder
partir revigorados no dia seguinte.
A
próxima cidade, Ipoema, guarda grandes feitos e histórias do tropeirismo na
Estrada Real. Ao chegarmos, fizemos uma parada na Pousada Real, para garantir o
carimbo que há dois dias não conseguíamos pegar devido aos feriados. Fomos
gentilmente recebidos pelo Sr. Joneijober que, após carimbar nossas
credenciais, nos deu muitas dicas.
Seguimos
para o centro da cidade e, para nossa tristeza, o Museu do Tropeiro também
estava fechado. Mas contamos com a ajuda de um anjo, uma segurança, que ao
saber que éramos de Sorocaba, cidade famosa por ser ponto de parada dos
tropeiros que seguiam ao sul do país, e que aguardávamos muito esta visita,
quebrou as regras nos permitindo entrar para conferir as lembranças de perto.
Roupas, acessórios e muitas histórias puderam ser observadas por nós. Lindos
poemas do grande Drummond enfeitam as paredes do museu: “Carga e cangalhas
dormem solidariamente com os tropeiros... confluídos no bloco noturno sem
estrelas: Viagem dormindo”...
Uma
grande dificuldade que sentimos, durante todos os dias, foi o calor intenso
dessa época do ano. Devido a isso, as subidas, principalmente as que eram
feitas em asfalto, nos custavam muito. Por sorte, um dia muito cansativo
recebia sua redenção. Na pousada Portal do Itambé, por exemplo, fomos muito bem
recebidos pela querida Nivea, que já tinha tudo muito bem organizado, inclusive
nosso jantar! Esta pousada também nos reservava outra belíssima surpresa pois,
nos fundos, há uma corredeira onde passamos um longo tempo nos banhando e
relaxando.
Entre
Itambé do Mato Dentro e Morro do Pilar há duas pedras famosas, de beleza
singular, parada obrigatória para muitas fotos! A partir daqui, sabíamos que os
quilômetros posteriores seriam ainda mais complexos, tanto pela altimetria como
pelas temperaturas que não paravam de subir. Em alguns momentos, o velocímetro
de minha bike, que também possui a função termômetro, registrava sensação
térmica de 47°C. Alguns companheiros até cogitaram abortar o restante da
aventura por completo.
Mas,
após longas conversas, decidimos seguir todos juntos e, quando estivéssemos
cansados, tentaríamos algumas caronas. Sem saber se nosso plano seria bem
sucedido, seguimos em frente. Costumo dizer que, ‘via de regra’, tudo sempre dá
certo.
Quando
necessário, conseguíamos carona para alguns. Os que seguiam, muito gentilmente
levavam os alforjes de quem continuava pedalando. Confesso que em muitos
momentos achei que seria impossível concluir a cicloviagem. Mas graças aos bons
companheiros do caminho, descanso e um dia após o outro, percebia que estava
enganada.
Ao
partir de Conceição do Mato Dentro, paisagens lindíssimas, búfalos, cavalos e
ovelhas complementavam a beleza do passeio. Como se os ‘céus’ soubessem que
precisávamos de uma ajudinha divina, certo ‘anjo’, um tanto diferente confesso,
pousou em nosso caminho um pouco antes de chegarmos à cidade de Santo Antônio
de Tapera. Hailander (isso é mesmo seu nome) passava de carro por nós, enquanto
pedalávamos, e gritava: ‘Vamos lá pessoal!!! Pedalem, não desistam! Não vale
colocar na coroinha pequena, aqui está fácil, pedalem, pedalem!’. Apenas ríamos
e pedalávamos.
A
‘figura em pessoa’ nos acompanhou até chegarmos próximo à cidade. Por lá, nosso
grupo decidiu se separar. Uma parte pegaria carona até a cidade onde
dormiríamos e a outra seguiria pedalando. Com a ajuda de Hailander, os que
decidiram continuar pedalando pegaram uma ‘pequena’ carona por 4 km até o topo
de uma montanha. Lá de cima, uma visão privilegiada em 360° nos aguardava,
sendo possível avistar a Serra do Caraça, Serra do Intendente e a de São José.
Seguimos
pedalando e apreciando, do meu ponto de vista, a visão mais linda de todo o
percurso! Conseguimos fazer até mesmo a famosa foto de divulgação da Estrada
Real. O trecho que nos levou a Alvorada de Minas ainda nos aguardava com
algumas subidas bem íngremes, onde pedalávamos e empurrávamos. Novamente
encontramos nossa redenção ao chegar na Pousada da Coruja, onde a Sra. Marlene
e o Sr. Valtinho nos aguardavam com um maravilhoso jantar num lugar perfeito.
Ouso dizer que foi nossa melhor refeição até aquele momento!
A cidade
de Serro é uma beleza à parte. Que surpresa boa! Um belo centro histórico com
muitas opções de comida, passeios e descanso. Um pouco antes de chegarmos,
ainda tivemos mais uma demonstração de acessibilidade e carinho do povo
mineiro. Durante este trajeto, a blocagem da roda traseira de nossa querida
amiga Maria apresentou um problema fatal. Não teríamos conseguido jamais
resolver este problema, não fosse a prontidão de um querido senhor que trabalha
numa cooperativa próxima. Ele levou a blocagem, cortou, soldou e a trouxe mais
perfeita do que poderia ter sido um dia. Quanto custou isso para nós? Um sorriso
e uma benção de boa viagem.
O
povoado de Milho Verde é outro caso à parte. Imortalizada por Milton
Nascimento, que apresentou a pequena igrejinha na capa de um de seus álbuns, a
região não tem grandes monumentos históricos. Por aqui, a beleza fica por conta
das paisagens e muitas cachoeiras. Após uma parada para nos hidratarmos e
algumas fotos, partimos em direção a São Gonçalo do Rio das Pedras, ao Refúgio
5 Amigos. Ali, fomos recebidos pela querida Anna Maria, uma suíça proprietária
da pousada que pessoalmente se encarrega de toda a organização, recepção e
jantar. Todos os elogios que havia lido sobre o lugar e pessoa foram reais e
justos. Depois de nossa deliciosa refeição, fomos todos descansar para o gran
finale, programado para o dia seguinte.
Após tomarmos
um perfeito café da manhã, partimos para uma missão muito importante. O Sr.
Fernando Gonçalves, de Bom Jesus do Amparo, havia me encarregado de, assim como
os antigos tropeiros, entregar uma carta ao Sr. Ademil, do Bar do Ademil. Carta
em mãos, seguimos até o bar para a entrega da importante mensagem. Senti-me uma
verdadeira tropeira, afinal, estava fazendo parte do caminho contribuindo com a
comunicação entre as pessoas dele. Foi um importante momento para mim.
O
caminho até Diamantina é lindíssimo! Logo no início, passamos por uma linda
ponte sobre o rio Jequitinhonha, datada do século XVII. Em Vau, aproveitamos
para tomar uma bebida no Bar ‘Último Gole´, nome pertinente, afinal, a próxima
parada está localizada em Diamantina. Após algumas montanhas, avistamos o Pico
do Itambé e ao passarmos no Ribeirão dos Infernos, enfrentamos uma longa e
íngreme subida. Dali, pudemos avistar a cidade de Diamantina ao horizonte.
Infelizmente não encontramos a entrada da Gruta do Salitre, passeio que ficará
para uma próxima vez.
Ao
chegarmos à cidade de Diamantina, as emoções estavam à flor da pele. Seguimos
imediatamente (empurrando, é claro) até a igreja matriz e após fomos até
‘Minhas Gerais’, onde retiramos nossos certificados de conclusão. Nossa
comemoração se deu no Café Baiuca, onde emocionados e eufóricos passamos horas
relembrando todos os feitos desta grande aventura.
No dia
seguinte, aproveitamos para descansar e fazer um passeio de pessoas ‘normais’.
Pegamos uma van, no centro da cidade, e fizemos um city tour que passou pelo
Caminho dos Escravos, Parque do Biribiri, Cachoeira Sentinela e Cachoeira dos
Cristais. Foi extremamente esclarecedor e divertido. Almoçamos no parque e
pudemos aproveitar o dia relaxando nas cachoeiras. No final do dia, pegamos as
bikes no hostel e deixamos no guarda-volumes da rodoviária.
Seguimos
para o centro da cidade, acompanhados de uma senhorinha linda que conhecemos no
city tour, chamada Cianeya, que aos 80 anos ainda viaja sozinha para desbravar
os melhores pontos turísticos de nosso país. Ali, jantamos todos juntos e
assistimos um pedacinho de um show que acontecia na praça. Vimos a queima de
fogos do hostel e começamos a nos despedir de todos. Minha percepção sobre o
caminho é fantástica. As paisagens com certeza foram as mais lindas que já
havia visto. As pessoas daqui são extremamente prestativas e caridosas.
Além
disso, seria muito injusto de minha parte deixar de citar a importância que
nossos companheiros de viagem tiveram uns para com os outros... Seja Filipe,
consertando a bike de todos quando quebrava; as risadas divertidas e todas as
certezas que Verinha nos afirmava ter, que conseguiríamos terminar todos
juntos; a força e companheirismo de Claudinha, especialmente para Zé e Vera,
quando fragilizados; a maravilhosa companhia que Maria fez para mim, seja
quando empurrávamos ou apenas ríamos de alguma situação e a rapidez de Carlão,
que muitas vezes seguia à frente, procurando os marcos para ter certeza de que
estávamos no caminho certo ou quando voltava para pegar algo que havíamos
esquecido pelo caminho.
Com
certeza não teria sido tão brilhante sem eles! Como sempre, tivemos mais uma
chance de comprovar que não há grandes feitos e histórias sem que haja grandes
personagens em nosso caminho! E para resumir o belíssimo Caminho dos Diamantes,
só consigo me lembrar da célebre frase de Dom Bosco, para descrevê-lo: “Não
disse que seria fácil, mas disse que valeria a pena!”
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