Portfólio - Claudia Jak




Claudia Jak 
Cicloturista
Palestrante Cicloturismo

Supervisora de Treinamentos
Currículo de Cicloviagens

Para cada viagem executada, crio um blog com nosso diário de bordo, sugestões e críticas de cada local conhecido. Tento esclarecer dúvidas, apresento roteiros, altimetrias e demonstrativos de gastos. Para acessar, basta clicar sobre os link`s abaixo: 

1 - 2011 São Miguel a Ilha - 180 km
2 - 2013 Santiago de Compostela - 850 km
3 - 2013 Vale Europeu - 300 km
4 - 2014 Caminho do Sol - 240 km
5 - 2014 Lagamar - 130 km
6 - 2014 Caminho do Sal - 54 km
7 - 2014 Caminho dos Diamantes / Estrada Real - 395 km
8 - 2015 Circuito das Frutas - 230 km
9 - 2015 Circuito Lagamar - 180 km
10 - 2016 Expedição Praia - 300 km



Casada com Filipe há 5 anos, transformamos nossas viagens  de lazer apenas em 'cicloviagens'. 

Quem somos? 

Segue reportagem da Revista Bicicleta, 25/10/2016

Edição 65 - Agosto de 2016


Nossa amiga Claudia Jakuboski, de 34 anos, natural de São Paulo, vive em Sorocaba onde é Supervisora de Treinamentos. Quem olha à primeira vista identifica uma jovem profissional muito comprometida com o trabalho atrás dos seus óculos de grau. E não é que não o seja. Porém, as pessoas sequer imaginam que ela já possua um currículo sensacional de cicloviagens e que seja completamente apaixonada por estar nas estradas de asfalto e terra, pedalando com seu esposo Filipe. E revela algo surpreendente: depois que começou a fazer cicloturismo, há seis anos, não viajou mais de outra forma a não ser de bike!

Revista Bicicleta por Therbio Felipe entrevista Claudia Jakuboski

Adepta da ideia de que conseguimos viver com muito pouco ou com o mínimo necessário, Claudia é destas pessoas carismáticas que deixa lugar na bagagem para levar dos lugares experiências de convívio, cultura e muito aprendizado.

Ainda que tenha realizado cicloviagens pelo Brasil nos afamados destinos do Vale Europeu, Circuito Lagamar São Paulo, Caminho do Sol, Caminho do Sal, Caminho dos Diamantes – Estrada Real, Serras Catarinenses, Circuito das Frutas, entre inúmeros outros, ela se considera uma eterna aprendiz, disposta a apreender das paisagens naturais e culturais o melhor para a vida. E não pára por aí, não. Claudia também teve a maravilhosa experiência de pedalar os 830 km do Caminho a Santiago de Compostela, um dos mais emblemáticos destinos cicloturísticos desejados por quatro entre cinco cicloturistas.

Ela comenta que, como tudo na vida, a gente deve começar a pedalar pouco a pouco, se interessar pelo assunto, levantar dados e informações, ouvir muito a experiência dos outros cicloturistas, e assim, pedalada a pedalada, criar a própria maneira de se sentir confortável ao passar dos quilômetros. Prova disto é que, ainda que tenha a companhia indissociável e cuidadosa de Filipe, Claudia quis aprender a fazer pequenos reparos e regular sua bike a fim de não precisar depender de ninguém para este fim. 

Enquanto pedala, Claudia sorri, tanto para quem encontra pelos caminhos quanto para si mesma. É uma maneira de presentear-se com o que mais gosta de fazer. Quem a segue nas mídias sociais também recebe presentes de Claudia, seja pelas postagens de fotos superbacanas das pedaladas que realiza, seja pelas mensagens diárias desejando “bom dia com alegria”, algo que não se pode deixar de perceber e retribuir.

Claudia é daquele tipo de gente em extinção que se sente grata por qualquer coisa, por mínima que seja. Ela se emociona e agradece por cada nova curva dos caminhos, pelas ladeiras acima e abaixo, pelo aceno dos cidadãos por quem cruza, pelas crianças que tentam acompanhá-la quando chega em alguns vilarejos e a convidam para comer em suas casas, pelas palavras de companheiros de cicloturismo mais experientes, enfim. O sentir-se grata de Claudia é parte fundamental daquilo que faz. 

Ela comenta que, a cada nova cicloviagem, se despede de si mesma, para que possa abandonar-se em busca de novos conteúdos que a farão melhor do que quando partira. A isto chamo de humildade, uma das bagagens essenciais que todo cicloturista deveria carregar.

Comenta ainda que acredita que o cicloturismo a fez uma pessoa melhor, que se sente mais conectada com as sensações dos caminhos, com as realidades de vida tão diferentes da sua, com a vibração carregada de emoção e que lhe confere equilíbrio. Pedalar é assim, não é mesmo?

Nas cicloviagens mundo adentro de Claudia e Filipe sempre há espaço para a contemplação de lugares e personagens. O ritmo das pedaladas é uma música ligeira compassada pela respiração, o alento indicando a vida que se inspira e expira. Sempre há tempo para mais uma foto, para mais um momento de gravar na memória emotiva aquele minuto da história de cada um. A poeira que impregna os calçados e roupas vale como uma lembrança da trajetória e de tudo o que se viveu. 

Claudia segue incentivando mulheres e homens a deixar-se levar pelos caminhos em bicicleta, da mesma forma que propõe olhar a vida de modo a enxergar as dificuldades como coisas passageiras e não tão grandes como as imaginamos.

Em suas palestras, desmistifica a falta de conforto e os empecilhos que, erroneamente, as pessoas atribuem às cicloviagens realizadas por mulheres, seja no teor de segurança, da higiene, do peso e tamanho da bagagem, entre outros aspectos. Ou seja, até mesmo quando profere uma palestra, Claudia segue propositiva, corajosa, criativa e sensível.

Entusiasta da ideia do Turismo de Experiência, Claudia diz que quando pensa em viajar já não se relaciona mais com o Turismo de Massa baseado no consumo, aglomeração de pessoas, péssimos atendimentos, esgotamentos de recursos, violência urbana, trânsito caótico, pessoas estressadas. Pensa, justamente, nos novos lugares com os quais irá presentear seus olhos e seus sentidos, como uma bagagem indelével! 

Quando analisa os últimos seis anos, acredita que houve uma evolução muito grande no que diz respeito a equipamentos para cicloturistas, principalmente os equipamentos femininos como selim, espuma de calções anatômicos, camisetas que se ajustam melhor. Também percebeu um aumento considerável na estrutura de circuitos de cicloturismo, como mapas, informações, credenciais, locais para comer e dormir, o que facilita em muito a programação da cicloviagem. 

Quando perguntei a ela sobre que aspectos citaria que ainda faltam para que a prática do cicloturismo se expanda no nosso país, Claudia disse que percebe que os investimentos na área ainda são precários, e o fator que mais compromete é, sem dúvida, a segurança, que envolve a integridade física e financeira de quem viaja de maneira tão delicada. Sempre que decide fazer uma cicloviagem, avalia todos esses aspectos e, infelizmente, já deixou de conhecer lugares por essas razões. Fica a dica para novas destinações cicloturísticas que pretendem ganhar a atenção destes “consumidores”. 

Para finalizar, Claudia conheceu Filipe, seu marido, pedalando, e depois disto realizaram inúmeras cicloviagens. Perguntei qual o peso que a bicicleta tem na vida do casal e ela, aos risos, respondeu que quando não pedalam, simplesmente brigam (risos). Treinam juntos, todo final de semana, sem ter preocupação de sair ou chegar em uma hora específica. Viajam apenas de bike, por isso, todos os investimentos que são feitos em equipamentos são motivo de alegria. E por fim, embora a cumplicidade de um casal dependa de vários fatores, fazer algo juntos contribui muito positivamente tanto física como mentalmente.

Que esta mensagem de Claudia anime, inspire e estimule novas mulheres à prática do cicloturismo, e que o façam com alegria. Alguém se habilita?

http://www.revistabicicleta.com.br/bicicleta.php?viajar%3F_claro_so_se_for_de_bicicleta&id=4623447

Outra matéria sobre uma de nossas viagens 








Revista Bicicleta por Cláudia Jakuboski Colaboração: Therbio Felipe M. Cezar
14/08/2015
Foto: Cláudia Jakuboski e Vera Marques

Montanhas Reais - Um caminho cheio de belezas, histórias e dificuldades

Partimos para uma viagem de oito dias pela Estrada Real. Foram 369 km partindo de Ouro Preto e tendo como ponto de chegada Diamantina.

Desde que voltei do Caminho de Santiago, na Espanha, minha próxima meta era percorrer a Estrada Real - MG. Conheci algumas pessoas que haviam pedalado pelo caminho, portando todo o aparato: barraca, fogareiro etc. Acredito que, talvez, por acharem que o referido caminho não tinha estrutura suficiente, acabavam por levar uma estrutura mais completa consigo.

Este não é meu estilo de cicloviagem. Gosto de me aventurar, mas prefiro levar o mínimo possível e, se possível, dormir em pousadas, sobre um colchão bem gostosinho. Por ‘concluir’, equivocadamente, que o caminho não tinha muita infraestrutura, não me sentia muito atraída em fazê-lo. 

No entanto, em setembro deste ano, 2014, descobri o site da Estrada Real, com informações que me animaram muito! Era possível baixar as planilhas, gráficos de altimetria e mais: havia telefones de pousadas por todo o percurso! Isso era o sinal que eu aguardava. Estava na hora de programar o grande Caminho Real!

Depois de muita pesquisa, meu marido e eu optamos por começar pelo ‘Caminho dos Diamantes’, um percurso de aproximadamente 400 km. O mesmo poderia ser iniciado em Diamantina (marco zero) ou em Ouro Preto. Como ‘desbravadores’, decidimos fazê-lo sentido descobrimento, ou seja, iniciar em Ouro Preto.

A preparação do caminho se deu com três meses de antecedência e envolveu um treinamento físico para o ganho de condicionamento, visto que em nossas pesquisas percebemos que teríamos grandes dificuldades com a altimetria.

Também fizemos leituras profundas sobre as histórias das cidades que passaríamos, para tentar aproveitar ao máximo cada lugar. Como a data escolhida coincidira com datas festivas e feriados, definimos a parte logística, com aproximadamente 50 km por dia, e fizemos as reservas prévias. 

Toda esta preparação foi muito importante! Durante o percurso, conhecemos pessoas que provavelmente desconheciam certos fatores do caminho, o que acabou contribuindo para que sua viagem fosse mal sucedida, causando, além de frustração, sua interrupção.

A princípio, iríamos apenas Filipe e eu. Logo, alguns amigos descobriram e se colocaram à disposição para nos acompanhar. Partimos no dia 22 de dezembro de 2014, em sete pessoas: Maria Mendes, Claudia Maria (Claudinha), Carlos Eduardo (Carlão), Vera Marques, José Marques (Zé), Filipe e eu. Bikes bem protegidas, em malas próprias para viagem, partimos para nossa aventura. Tudo ocorreu muito bem, sem imprevistos, tanto nos ônibus como no avião.

Já em Ouro Preto, antes de partir, passamos no Centro de Informações ao Turista, localizado na Praça Tiradentes, a fim de pegar os ‘passaportes’ solicitados com antecedência no site da Estrada Real. Esta credencial nos permite receber carimbos pelo caminho e, ao conquistar pelo menos dez carimbos, nos garante um certificado de conclusão de percurso, que será retirado no final, em nosso caso, em Diamantina.

Conforme o planejado, partimos de Ouro Preto rumo aos ‘diamantes’ do caminho. Logo de ‘cara’, dar adeus a Ouro Preto nos faz suspirar, pois sinceramente, gostaríamos de ter tido mais tempo na cidade. Meu marido, Filipe, de nacionalidade portuguesa, diz sentir-se na linda Porto, em Portugal, por lá. Antes de partirmos, fomos agraciados com a presença de vários curiosos que gostariam de saber para onde íamos, como faríamos, sempre recebendo suas bênçãos no final de nossas explicações. Fizemos muitas fotos com várias pessoas, como se fôssemos artistas de cinema.

Antes de partir, passamos em frente aos principais pontos turísticos, fotografando-os um a um. Enquanto fazíamos isso, repassava em minha mente, agitada e ansiosa para desbravar nossa mais nova aventura, um pequeno trecho do poema “A Vida” de Augusto Branco:

"Mas vivi!

E ainda vivo!
Não passo pela vida.
E você também não deveria passar!

Viva!!

Bom mesmo é ir à luta com determinação

Abraçar a vida com paixão

Perder com classe

E vencer com ousadia

Porque o mundo pertence a quem se atreve

E a vida é “muito” para ser insignificante."



Sorrisos no rosto, bikes na estrada, vias de asfalto, longas descidas e paisagens lindíssimas! O começo do caminho nos deixava muito animados! Ao chegarmos à Mina de Passagem, em Mariana, a maior mina de ouro desativada aberta à visitação, paramos para conferir os mais de 120 m abaixo da terra, com todas as suas galerias, túneis e uma gruta de água cristalina com uma visão espetacular.

Também ouvimos a apresentação guiada de uma monitora da mina, que nos deu belas explicações de como eram executados os trabalhos por ali, no século passado, e nos deu também uma amostra prática de como era garimpado o ouro após a extração do metal.

A cidade de Mariana era também muito aguardada por todos, mas especialmente por nossa querida Vera que estava ansiosa por conhecer o antigo Órgão da Sé, instrumento que chegou ao Brasil em 1753, como presente da coroa portuguesa. O instrumento é de grande importância, tanto pela antiguidade como por ser o único Órgão de manufatura Schnitger que sobreviveu até hoje fora da Europa.

Para nossa tristeza, não é permitido fazer fotos, mesmo sem flash. Acho isso um grande erro, afinal, ele também nos pertence e não levar sua memória visual nos deixou tristes. Aproveitamos para pegar nossos Carimbos na cidade e na sequência passamos pelo primeiro marco da Estrada Real, em frente à estação ferroviária de Mariana.

A partir deste ponto, encontraríamos marcos por toda nossa jornada, o que nos certificava de que estávamos no caminho certo! Eufóricos, paramos para nossa primeira foto no marco. Fomos carinhosamente agraciados por uma senhora, que simplesmente atravessou a rua para nos abençoar. Todo este carinho típico do povo mineiro nos acompanharia por todos os outros dias de viagem.

Em Camargos, fomos direto para a pousada da querida Dona Cota e Sr. Dario, um casal incrível que nos recebeu como se fôssemos da família. Sobre a mesa da cozinha rústica tipicamente mineira, com direito a um fogão a lenha, um delicioso café da tarde com bolo e uma boa prosa nos aguardavam. Atentos, o casal nos observava, como que tentando descobrir se precisávamos de mais alguma coisa que eles ainda não tivessem percebido.

A pousada simples e todo o tratamento aconchegante nos deu uma ideia de como passaríamos os próximos dias. No dia seguinte, após delicioso café da manhã com direito a pão de queijo, queijo, bolo e pão caseiro, dizer adeus aos nossos primeiros hospedeiros foi triste, mas necessário. Passamos pelo cruzeiro e a igrejinha do povoado, neste momento fechados para restauração. Belíssimas estradas de terra com mata fechada e um riacho nos acompanharam até chegarmos a outro pequeno povoado, Bento Rodrigues. Ruas calmas, pessoas tranquilas, tudo conspirava para que estivéssemos em paz, sorrindo à toa.

Logo passamos a ver no horizonte a belíssima Serra do Caraça e do Espinhaço. Após um pequeno trecho em asfalto, percebemos que estávamos adentrando a região de Catas Altas, devido a interferência humana na paisagem. Infelizmente, há mineradoras trabalhando aqui a todo o vapor.

Ao pararmos num pequeno mercadinho para nos abastecer, conversei com um senhor, que estava sentado à porta. Percebi que os trabalhos da mineradora incomodavam as pessoas da cidade. Ele nos contou que a água que vem das montanhas, antes cristalina, atualmente está com muita impureza, provavelmente consequência dos trabalhos. Fiquei muito triste ao ouvi-lo dizer: ‘Talvez em breve, ao olharmos para o horizonte, não tenhamos mais nenhuma montanha como essas que temos agora’. Seguimos por mais alguns quilômetros em estradas de terra e chegamos ao marco 505, momento aguardado por todos, pois é onde está o famoso monumento ‘Bicame de Pedra’, um aqueduto com 4 m de altura, datado do ano de 1792, construído por escravos, apenas com pedras sem qualquer tipo de concreto.

Após muitas fotos e maravilhados com o que vivemos e vimos, em plena noite de natal, chegamos a Santa Bárbara, uma das cidades mais antigas de Minas. Lá, ficamos hospedados em um hotel na parte central da cidade, aguardando o próximo dia de aventuras.
O terceiro dia prometia grandes paisagens e dificuldades, afinal, após Barão de Cocais, pegaríamos uma ‘bela’ subida com pelo menos 6 km, partindo de uma altitude com 600 m e terminando em 1.200 m. Além desta dificuldade, o trecho que era para ter sido feito em meio a uma floresta de eucalipto, no momento, encontrava-se sem árvores devido a estar no período de cortes. No calor intenso do sol do meio dia, chegar ao topo não foi uma tarefa tão simples; mas conseguimos! Neste trecho ainda passamos por uma ponte férrea muitíssimo alta, onde aproveitamos para fazer algumas fotos.

O tão aguardado Sítio Arqueológico Pedra Pintada, com pinturas rupestres que datam de cerca de 6 mil anos, infelizmente estava fechado, embora a placa prometia estar aberto mesmo aos sábados, domingos e feriados. Sem poder entrar, seguimos rumo à cidade de Cocais onde novamente, para nosso desespero, tudo estava fechado. Nossas águas já haviam acabado e, por isso, tivemos que recorrer aos sempre bondosos e acessíveis moradores que prontamente nos deram água fresca suficiente para poder continuar.

Em Bom Jesus do Amparo, éramos aguardados por Fernando Gonçalves, um guia muito querido da região que nos levou até a Pousada Real, onde fomos recebidos por Joãozinho. Após uma longa e divertida conversa, comemos os deliciosos lanches - que eram nossa única opção de alimentação -  e descansamos para poder partir revigorados no dia seguinte.

A próxima cidade, Ipoema, guarda grandes feitos e histórias do tropeirismo na Estrada Real. Ao chegarmos, fizemos uma parada na Pousada Real, para garantir o carimbo que há dois dias não conseguíamos pegar devido aos feriados. Fomos gentilmente recebidos pelo Sr. Joneijober que, após carimbar nossas credenciais, nos deu muitas dicas.

Seguimos para o centro da cidade e, para nossa tristeza, o Museu do Tropeiro também estava fechado. Mas contamos com a ajuda de um anjo, uma segurança, que ao saber que éramos de Sorocaba, cidade famosa por ser ponto de parada dos tropeiros que seguiam ao sul do país, e que aguardávamos muito esta visita, quebrou as regras nos permitindo entrar para conferir as lembranças de perto. Roupas, acessórios e muitas histórias puderam ser observadas por nós. Lindos poemas do grande Drummond enfeitam as paredes do museu: “Carga e cangalhas dormem solidariamente com os tropeiros... confluídos no bloco noturno sem estrelas: Viagem dormindo”...

Uma grande dificuldade que sentimos, durante todos os dias, foi o calor intenso dessa época do ano. Devido a isso, as subidas, principalmente as que eram feitas em asfalto, nos custavam muito. Por sorte, um dia muito cansativo recebia sua redenção. Na pousada Portal do Itambé, por exemplo, fomos muito bem recebidos pela querida Nivea, que já tinha tudo muito bem organizado, inclusive nosso jantar! Esta pousada também nos reservava outra belíssima surpresa pois, nos fundos, há uma corredeira onde passamos um longo tempo nos banhando e relaxando. 

Entre Itambé do Mato Dentro e Morro do Pilar há duas pedras famosas, de beleza singular, parada obrigatória para muitas fotos! A partir daqui, sabíamos que os quilômetros posteriores seriam ainda mais complexos, tanto pela altimetria como pelas temperaturas que não paravam de subir. Em alguns momentos, o velocímetro de minha bike, que também possui a função termômetro, registrava sensação térmica de 47°C. Alguns companheiros até cogitaram abortar o restante da aventura por completo.

Mas, após longas conversas, decidimos seguir todos juntos e, quando estivéssemos cansados, tentaríamos algumas caronas. Sem saber se nosso plano seria bem sucedido, seguimos em frente. Costumo dizer que, ‘via de regra’, tudo sempre dá certo.

Quando necessário, conseguíamos carona para alguns. Os que seguiam, muito gentilmente levavam os alforjes de quem continuava pedalando. Confesso que em muitos momentos achei que seria impossível concluir a cicloviagem. Mas graças aos bons companheiros do caminho, descanso e um dia após o outro, percebia que estava enganada.

Ao partir de Conceição do Mato Dentro, paisagens lindíssimas, búfalos, cavalos e ovelhas complementavam a beleza do passeio. Como se os ‘céus’ soubessem que precisávamos de uma ajudinha divina, certo ‘anjo’, um tanto diferente confesso, pousou em nosso caminho um pouco antes de chegarmos à cidade de Santo Antônio de Tapera. Hailander (isso é mesmo seu nome) passava de carro por nós, enquanto pedalávamos, e gritava: ‘Vamos lá pessoal!!! Pedalem, não desistam! Não vale colocar na coroinha pequena, aqui está fácil, pedalem, pedalem!’. Apenas ríamos e pedalávamos.
A ‘figura em pessoa’ nos acompanhou até chegarmos próximo à cidade. Por lá, nosso grupo decidiu se separar. Uma parte pegaria carona até a cidade onde dormiríamos e a outra seguiria pedalando. Com a ajuda de Hailander, os que decidiram continuar pedalando pegaram uma ‘pequena’ carona por 4 km até o topo de uma montanha. Lá de cima, uma visão privilegiada em 360° nos aguardava, sendo possível avistar a Serra do Caraça, Serra do Intendente e a de São José.

Seguimos pedalando e apreciando, do meu ponto de vista, a visão mais linda de todo o percurso! Conseguimos fazer até mesmo a famosa foto de divulgação da Estrada Real. O trecho que nos levou a Alvorada de Minas ainda nos aguardava com algumas subidas bem íngremes, onde pedalávamos e empurrávamos. Novamente encontramos nossa redenção ao chegar na Pousada da Coruja, onde a Sra. Marlene e o Sr. Valtinho nos aguardavam com um maravilhoso jantar num lugar perfeito. Ouso dizer que foi nossa melhor refeição até aquele momento!

A cidade de Serro é uma beleza à parte. Que surpresa boa! Um belo centro histórico com muitas opções de comida, passeios e descanso. Um pouco antes de chegarmos, ainda tivemos mais uma demonstração de acessibilidade e carinho do povo mineiro. Durante este trajeto, a blocagem da roda traseira de nossa querida amiga Maria apresentou um problema fatal. Não teríamos conseguido jamais resolver este problema, não fosse a prontidão de um querido senhor que trabalha numa cooperativa próxima. Ele levou a blocagem, cortou, soldou e a trouxe mais perfeita do que poderia ter sido um dia. Quanto custou isso para nós? Um sorriso e uma benção de boa viagem.

O povoado de Milho Verde é outro caso à parte. Imortalizada por Milton Nascimento, que apresentou a pequena igrejinha na capa de um de seus álbuns, a região não tem grandes monumentos históricos. Por aqui, a beleza fica por conta das paisagens e muitas cachoeiras. Após uma parada para nos hidratarmos e algumas fotos, partimos em direção a São Gonçalo do Rio das Pedras, ao Refúgio 5 Amigos. Ali, fomos recebidos pela querida Anna Maria, uma suíça proprietária da pousada que pessoalmente se encarrega de toda a organização, recepção e jantar. Todos os elogios que havia lido sobre o lugar e pessoa foram reais e justos. Depois de nossa deliciosa refeição, fomos todos descansar para o gran finale, programado para o dia seguinte.

Após tomarmos um perfeito café da manhã, partimos para uma missão muito importante. O Sr. Fernando Gonçalves, de Bom Jesus do Amparo, havia me encarregado de, assim como os antigos tropeiros, entregar uma carta ao Sr. Ademil, do Bar do Ademil. Carta em mãos, seguimos até o bar para a entrega da importante mensagem. Senti-me uma verdadeira tropeira, afinal, estava fazendo parte do caminho contribuindo com a comunicação entre as pessoas dele. Foi um importante momento para mim.

O caminho até Diamantina é lindíssimo! Logo no início, passamos por uma linda ponte sobre o rio Jequitinhonha, datada do século XVII. Em Vau, aproveitamos para tomar uma bebida no Bar ‘Último Gole´, nome pertinente, afinal, a próxima parada está localizada em Diamantina. Após algumas montanhas, avistamos o Pico do Itambé e ao passarmos no Ribeirão dos Infernos, enfrentamos uma longa e íngreme subida. Dali, pudemos avistar a cidade de Diamantina ao horizonte. Infelizmente não encontramos a entrada da Gruta do Salitre, passeio que ficará para uma próxima vez.

Ao chegarmos à cidade de Diamantina, as emoções estavam à flor da pele. Seguimos imediatamente (empurrando, é claro) até a igreja matriz e após fomos até ‘Minhas Gerais’, onde retiramos nossos certificados de conclusão. Nossa comemoração se deu no Café Baiuca, onde emocionados e eufóricos passamos horas relembrando todos os feitos desta grande aventura.

No dia seguinte, aproveitamos para descansar e fazer um passeio de pessoas ‘normais’. Pegamos uma van, no centro da cidade, e fizemos um city tour que passou pelo Caminho dos Escravos, Parque do Biribiri, Cachoeira Sentinela e Cachoeira dos Cristais. Foi extremamente esclarecedor e divertido. Almoçamos no parque e pudemos aproveitar o dia relaxando nas cachoeiras. No final do dia, pegamos as bikes no hostel e deixamos no guarda-volumes da rodoviária. 

Seguimos para o centro da cidade, acompanhados de uma senhorinha linda que conhecemos no city tour, chamada Cianeya, que aos 80 anos ainda viaja sozinha para desbravar os melhores pontos turísticos de nosso país. Ali, jantamos todos juntos e assistimos um pedacinho de um show que acontecia na praça. Vimos a queima de fogos do hostel e começamos a nos despedir de todos. Minha percepção sobre o caminho é fantástica. As paisagens com certeza foram as mais lindas que já havia visto. As pessoas daqui são extremamente prestativas e caridosas. 

Além disso, seria muito injusto de minha parte deixar de citar a importância que nossos companheiros de viagem tiveram uns para com os outros... Seja Filipe, consertando a bike de todos quando quebrava; as risadas divertidas e todas as certezas que Verinha nos afirmava ter, que conseguiríamos terminar todos juntos; a força e companheirismo de Claudinha, especialmente para Zé e Vera, quando fragilizados; a maravilhosa companhia que Maria fez para mim, seja quando empurrávamos ou apenas ríamos de alguma situação e a rapidez de Carlão, que muitas vezes seguia à frente, procurando os marcos para ter certeza de que estávamos no caminho certo ou quando voltava para pegar algo que havíamos esquecido pelo caminho.

Com certeza não teria sido tão brilhante sem eles! Como sempre, tivemos mais uma chance de comprovar que não há grandes feitos e histórias sem que haja grandes personagens em nosso caminho! E para resumir o belíssimo Caminho dos Diamantes, só consigo me lembrar da célebre frase de Dom Bosco, para descrevê-lo: “Não disse que seria fácil, mas disse que valeria a pena!” 

http://www.revistabicicleta.com.br/bicicleta.php?montanhas_reais__um_caminho_cheio_de_belezas_historias_e_dificuldades&id=4623060


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